Sunday, July 12, 2020

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“Humanae Vitae”: uma carta de amor.

23 de junho de 2020
por Ana Braga-Henebry


Amigos em Cristo,

Mamãe e papai tinham, no quarto deles, uma linda Nossa Senhora das Graças, que eu sempre amei. No mês de maio mamãe montava um altarzinho com renda, flores, castiçais e velas. Rezávamos o terço, e como eu gostava de olhar para ela, a Mãe Santíssima, que ali parecia pedir a Deus, constantemente, pela nossa família. Essa imagem de Nossa Senhora me vem à mente muitas vezes, como nesse episódio que escrevo hoje.

Quando tínhamos nossos dois primeiros filhos, meu marido e eu, ele no começo da carreira acadêmica, decidimos tomar aulas do planejamento natural da família. O dinheiro era bem curto, e queríamos esperar um pouquinho para ter o terceiro filho. Na nossa paróquia havia um pequeno anúncio para aulas de um que sabíamos ser aprovado pela Igreja Católica. As aulas eram num pequeno escritório no hospital, perto da maternidade. Que delicia era parar pelo berçário e dar uma olhada nos bebezinhos recém-nascidos! Não é a maternidade a área mais cheia de alegria em qualquer hospital?

Nossas aulas foram ótimas, e logo estávamos começamos a seguir o método sem maiores problemas. Continuamos indo as aulas, a aprendendo mais sobre o lindo ensinamento da Igreja sobre o casamento, a família, e a beleza do corpo humano.

Um dos “deveres de casa” que a professora nos passou foi a leitura da encíclica do Papa Paulo VI, a famosa “Humanae Vitae“. Nos certamente tínhamos ouvido falar sobre ela, mas nunca tínhamos lido. Na verdade, eu não sei se tínhamos lido encíclica alguma de cabo-a-rabo.

A professora foi bem positiva, dizendo que a leitura não era longa, mas uma verdadeira “love letter“: uma carta de amor.
Humana Vitae:”love letter”

Nossa professora estava certa: a leitura da Humana Vitae não é longa, e o conteúdo certamente que consiste numa “carta de amor”. Sem me recorrer ao texto original, e sem adicionar extensas citações aqui, relato aqui somente o que a encíclica nos ensinou: que a Mãe Igreja tem o maior respeito pelo corpo humano, especialmente pelo corpo da mulher, de propósito tão sublime, co-criador com Deus Pai. No texto encontramos as palavras mais lindas sobre o que é o casamento, a união conjugal, a beleza e responsabilidade da família.

E mais, encontramos nele o tom profético do texto que vem da sabedoria de Deus: o que o advento do contraceptivo artificial iria causar na sociedade em geral. Tudo que veio a acontecer: as estatísticas do divórcio, crianças crescendo sem família, adultério, violência contra a mulher, e por aí afora. Não há um ponto na encíclica que não veio a ser estatística contemporânea.
Testemunho dos pais

Na próxima vez que visitei o Brasil, contei à mamãe sobre a nossa leitura da encíclica. Mamãe era mãe de dez filhos, e mãe também para tantos outros que sempre viam nela uma figura de mãe, com conselhos bons e verdadeiros. Ela ouviu tudo que eu tinha a contar sobre nossas aulas, e sobre os avanços científicos dos métodos de planejamento natural da família. E ela me contou, aquele dia, um capítulo da história dela e de papai que eu nunca esqueci.

Quando ela e papai estavam tendo e criando seus filhos, seguindo os ensinamentos da Igreja, o mundo católico já se achava mais sábio do que a Igreja, e os casais já optavam por ter somente poucos filhos. Ela me contou da comissão que o papa formou para estudar o assunto da pílula anticoncepcional, e que todos esperavam que a comissão iria recomendar ao papa que a Igreja mudasse seus ensinamentos. O que, ao que parece, realmente aconteceu.

E contou que ela e papai eram zombados pelos outros como que sendo “mais católicos que o papa”, e coisa assim. Pensei, agora que era casada com filhos, como dói a crítica dos outros que não entendem a beleza e sacrifício de nossa opção de vida.

Quando a encíclica Humanae Vitae foi publicada, ela continuou me contando, o mundo todo se surpreendeu. Quantos esperavam e garantiram que agora, com a pílula, a Igreja iria mudar seus ensinamentos! E papai e mamãe, fiéis e humildes, seriam ainda mais motivo de zombaria dos outros, tendo sido fieis a “Igreja antiquada”… E, no entanto, qual alegria lhes foi ler a encíclica, a verdadeira carta de amor, lembrando ao mundo o papel vital do homem e da mulher, da maravilha do corpo humano feito por Deus, do verdadeiro significado do matrimonio e a importância da família no mundo.
“Foi como um presente de Deus, direto do céu, como se dizendo, como no capítulo 25 da epístola de São Mateus: “Muito bem, servo bom e fiel [ …]; vem regozijar-te com teu Senhor.”

Os olhos marejados, mamãe me olhou nos olhos, e finalizou a história:

“Naquela noite, querida filha, seu pai e eu caímos de joelhos antes de dormir, na beira da cama, e, chorando de agradecimento, louvamos ao Senhor.”

E eu, no coração, guardei aquela história para a vida toda. Vejo na mente imagem do quarto deles, a Nossa Senhora olhando, guardando, guiando meus pais, e, naquele dia, sorrindo.

Até a próxima!

Ana,

http://anabragahenebrysjournal.blogspot.com/

1 comment:

Kathie Hogan said...

How lovely, Ana. Beautifully written and a lovely testament to the love of your parents.